segunda-feira, 28 de abril de 2008

coração à minha espera

..







.


Coração dentro do peito porque choras
Não vês que sem ti não sei viver
Estás cansado desiludido vais-te embora
Quero ir contigo e contigo perecer.


Espera um pouco já raiou o sol da esperança
Não te canses de esperar que eu também não
Floriu a primavera da mudança
Não tenhas pressa espera mais meu coração

Onde me levas? Corres de mais, escuta bem
Há flores da cor do sol e é primavera
Se a metade que aqui falta já não vem
Está concerteza no jardim à minha espera.


a saudade aqui nos montes tem abrigo

.










.



A saudade aqui nos montes tem abrigo
Em todo o horizonte ao meu alcance
Nos trilhos por onde passo vai comigo
Lado a lado sempre atenta e vigilante.

Diz que também são dela estes caminhos
As veredas por onde passa a solidão
As ramadas onde as aves fazem ninhos
Na primavera a florir todo este chão.

Veste um manto que lhe fica sempre bem
Feito por medida e aprovado
No atelier da natureza que é mãe
E que eu venero apesar de tão usado.

Sempre nova apesar de tão velhinha
Fiel está comigo onde eu estiver
Já minha mãe a usou. Agora minha.
Vou deixá-la para usar quem a quiser.





sonho

.
Sonhava ser de prata o seu olhar,
Por dentro ser de ouro o coração,
Ser de água o seu sorriso, e saciar
A sede de amar que havia então.

Havia em qualquer tempo primavera
Florida de boninas matizantes,
Havia luas de sonho, quando era
Serena a noite dos amantes.

Ó vós, que só do ter fazeis projecto,
Vaidosos de uma vida sem sentido,
Acaso sabeis do ser o seu afecto
Perante o curto prazo concedido?

E vós, que não sabeis de outro poema
Que não seja a cor do ouro reluzente?
Descansai, por fim, é tão pequeno
O espaço da posição jacente.


quis saber de ti quando passavas

.
Quis saber de ti quando passavas
Na rua das perguntas transparentes
Quis saber a razão porque me olhavas
Assim tão fugidia ao sol poente.

Paraste de modo altivo mas por dentro
Do teu olhar distante ainda vi
A saudade a afagar o pensamento
Nas cartas que escreveste e eu não li.

Então foram os dias que voltaram
As horas os minutos e os segundos
E frente a frente a sós ali ficaram
Calados os segredos mais profundos.


chamei por ti


.
Chamei à tua despedida erva-doce,
Ao abraço que não demos cobardia,
E como se toda a culpa minha fosse
Chamei à tua imagem valentia.

Chamei aos teus cabelos labirinto
No deserto, à tua voz chamei perdão
Labaredas apagadas, fogo extinto
Na cratera rasgada de um vulcão.

Chamei ao teu olhar farol aceso,
Onde o meu, descuidado, ficou preso
Nas areias do teu corpo movediço.

Depois chamei por ti sem dizer nada
E, por milagre divino, outra alvorada
Nasceu dentro de mim sem dar por isso.
.