quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Setembro de saudade

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É Setembro, já as fontes
Cantam baixinho e agora
Secam as ervas nos montes
E as rolas se vão embora.

É Setembro das vindimas
Das desfolhadas na eira
Dos milheiras das espigas
De abraços de brincadeira.

É Setembro da saudade
De voltar à minha Aldeia
E num abraço de amizade
Envolver quem nos enleia.

É Setembro, adeus, adeus,
A primavera há-de vir
Pintar de verde a paisagem
Num cenário a florir.

É Setembro rolam folhas
Pelo chão em desalinho
E eu à procura do sonho
Sem encontrar o caminho.

É Setembro, já no fim
Vem o Outono cinzento,
Quando o amor diz que sim
Brilha sempre o sol por dentro.

1997

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Montes da minha Aldeia

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Montes da minha paisagem,
desta paisagem bravia,
quem vos despiu a roupagem
que eu vos vi vestida um dia?

Manto da cor da verdura,
retratos de outro olhar.
Geografia, lonjura,
com outra forma de estar.

Penedos altos esguios
de sagrada arquitectura
pela natureza erguidos,
do modernismo arredios.
Ando à vossa procura.

Minha paisagem sadia
onde me sento e descanso
à sombra das penedias.
Breve viagem em que espero
ouvir o canto que enleia
p'ra amainar o desencanto
de que trago a alma cheia.

Ai montes do meu olhar
que a natureza esculpiu
e o vento foi burilando,
em pormenores de beleza
que mais lindos ninguém viu.

Oásis de encantamento
quem foi que assim vos despiu
e abandonou ao relento,
na noite dos devaneios?
Montes, redondos enleios
vistos da minha janela.
Mais parecem castos seios
de recatada donzela.

Em pose de formosura
e quartos de lua cheia.
Eu vou à vossa procura
lá no alto, no altinho,
onde o açor planando
bate as asas e voeja
e a cotovia faz ninho
à sombra d'uma carqueja.

Há um paraíso esquecido
onde mora a eternidade.
Até quando, até quando
só Deus sabe. Eu vou esperando
outro tempo, outras vontades,
na miragem que me enleia
até curar as saudades,
de que trago a alma cheia.
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Escrito após o grande incêndio que em 1988 destruiu grande parte da floresta de toda a freguesia.