quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

havia além do rio


.
Havia um poema à beira-rio
Por entre o verde dos amieirais
Onde as rolas de porte airoso no estio
Descuidadas noivavam aos casais



Quando o mundo em sobressalto se agitava
Vinha a vida em paz serena aqui morar
E havia a moleirinha que passava
Com promessas de pão no seu andar



E havia além do rio verdes prados
Onde os gaios em julho debicavam
As espigas do milho tenro e grado
Rindo dos palhaços que as guardavam
.

dor dizível

.
Tenho uma dor que digo.
Outra que não sei dizer.
Naquela, encontro abrigo.
Esta só me faz sofrer.
.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

colcurinho

.

Parecem castos seios de donzela
Os montes da paisagem natural
Que da minha panorâmica janela
O meu olhar afaga quente e sensual.

À noitinha quando a lua os vem beijar
Que lindo é ver o seu enleamento,
E a natureza em segredo a apadrinhar
O abraço que eles dão nesse momento.

Também é minha amante esta paisagem.
Em qualquer tempo, cheia de beleza,
Prendeu-me irrevogavelmente o coração.

Com trejeitos suaves de bem-querer
Enleou o meu olhar para eu dizer:
Que belo é viver nesta prisão.
.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

a caminho do rio


.
"Já é aqui a ria, pai?"..., nesta secura
onde o pó aos quadrados se amontoa.
- Não, meu fiho, o rio é outra lonjura...
Além é que a saudade nos magoa.


Onde as margens seculares espreitam
a água a fugir delas, delirante,
e há folhas e flores que enfeitam
na relva, a cama livre dos amantes.


Onde a sombra cai na água ás cavalitas
e à pedras de tons e formas esquisitas
nas montras do areal quando é estio,


e a beijar a água há salgueirais
onde as rolas noivam as casais...
- Além..., meu filho, é que é o rio!
.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

para o meu neto

Nuno Gomes Gouveia
no dia dos seus quinze anos

.
É tão grande a esperança
O querer é maior
Procura e alcança
Para ti, o melhor.



No teu tempo certo,
Estuda e porfia,
Ficarás mais perto
Do saber, um dia.



Não esperes, sê forte!
Persegue o teu norte,
Confia na vida.



Que a vida, e só ela,
Sedutora e bela,
Te dará guarida.
.
(um abraço dos avós Viriato e Maria Soledade - Aldeia das Dez, 08 de Dezembro de 2009)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

o tempo nunca é como era antes

.

Havia uma casa, havia duas,
lá no monte mais além havia vida.
Havia um povoado onde as ruas
eram socalcos de terra florida.

Havia uma latada ao pé da porta.
Havia a casa cheia como um ovo.
O galo a cantar na capoeira,
cantando anunciava um dia novo.

E havia um tempo onde agora há outro,
neste correr de tempos delirantes.
O tempo é sempre novo e sabe a pouco.
O tempo nunca é como era dantes.

Agora só no monte baila o vento
à noite com as estrelas cintilantes,
e a casa do silêncio tem lá dentro
guardado, o segredo dos amantes.

Havia o tempo azul. Corriam lentos
os dias de horizontes verdejantes.
A vida é um vai e vem de movimentos.
E o tempo nunca é como era dantes!


dor


..
A mágoa que mais dói, a mais sentida,
A que mais fere por dentro o coração,
É aquela que sem eco, nem guarida,
Vagueia sem ter voz na escuridão.